Friday, February 4, 2011

MINHA RELAÇÃO COM A COMIDA...por Deborah Jappelli

Falar da minha relação com a comida não é coisa simples, pois na verdade eu muitas vezes já refleti sobre o assunto.
Tem varias diferentes relações, por estranho que pareça. 
Tem a de quem come e a de quem cozinha. Tem a de quem tem tempo, e a de quem tem pressa. A de quem faz e a de quem observa.
As vezes parecem conflitar. 
Por ser italiana, faltando da Itália há mais ou menos oito anos, não sei o que aconteceu nestes últimos tempos por lá. Mas acredito que as boas trattorias romanas, osterias toscanas ou venetas, ou restaurantes clássicos,  continuam os mesmas, com os mesmos sabores genuínos. 
Eu sou curiosa por natureza e por isso não recuso conhecer nada, leio muito, pesquiso neste meio fantástico que é a internet. Existem modas em todos os campos, em todas as épocas, e em todos países. 
Não podia ser diferentes na culinária e gastronomia. Mas as modas vem e vão.  Os sabores verdadeiros e simples ficam. São eternos. 
E’ maravilhoso ver hoje ingredientes ser utilizados de forma totalmente nova, combinações impensáveis outrora ser propostas com tanta ousadia. E nosso paladar de verdade está sempre mais se acostumando a tudo e ao contrario de tudo. Por este caminho, nada mais é impossível. E sobre tudo, não sabemos mais onde acaba nosso senso critico e começa o plagio das nossas papilas gustativas. 
Se a combinação “esquisitinha” vem de um grande Chef, e é elogiada em uma matéria publicada em coluna gastronômica da revista vip de moda também, aí que vem o dilema.
Tem que ter muita coragem para declarar nossa repulsão para aquele mix inusitado, porque seremos julgados com certeza como gente que não entende nada de comida e de alta gastronomia.

Aqui vem minha resposta sobre minha relação com comida: não entendo nada o quase de alta gastronomia, quando esta não enche além de meus olhos e meu espirito artístico, também minha barriga!
Falei barriga sim. Tem nada de chique nesta palavra, mas é pra onde a comida vai.
E aqui vem provavelmente minha herança italiana. Azeite novo: verde, picante, cheiroso,  numa fatia de pão caseiro esfregada com alho. Não tem alta  gastronomia para me fazer trocar.
Comida simples, bem temperada, sem inventar nada de desnecessário. Um simples spaghetti al pomodoro e basilico, não precisa de nada mais do que é. Um pouco de verdadeiro  parmigiano  ou grana padano em cima completa a obra de arte.
Uma “carbonara”, uma “arrabbiata” não necessitam de nada mais.  Mas olhem bem que um molho a bolonhesa bom não é nada simples. Ou seja. É simples mas trabalhoso para ter aquele sabor que tem que ser! São horas de borbulhar baixinho...e muito amor nisso. Tem centenas de receitas maravilhosas na culinária italiana; elas carregam parte da tradição regional, mas tem em comum umas características que eu considero fundamentais, e que são aquelas que resumem meu relacionamento com a comida.
Estas receitas são feita a moda da avó, que ensinou a filha, que ensinou a neta. As receitas vem de dentro das famílias , das casas e deste jeito chegam aos restaurantes. O cozinheiro faz no restaurante o que a mãe dele fazia em casa. Claro, o toque de um profissional  pode acrescentar uma sofisticação mas ...uma fiorentina é uma fiorentina, e não tem muito pra acrescentar.
Por este motivo eu sei que meu jeito de cozinhar é caseiro, amo comida suculenta e molhada, cheirosa e com sabores definidos. Amo conservas, pois fazem parte da tradição de aproveitar das estações para guardar ingredientes sazonais para o inverno; amo geleias, porque me lembram as colheitas de fruta; amo loucamente pão que tem sabor de pão, e textura de pão, e cheiro de pão. Só quem já “cheirou “uma padaria italiana de uma quadra de distancia pode me entender. E se alguém acha que esta comida seja mais simples que um daqueles pratos-escultura que estão na moda, está enganado. Atrás de uma receita que parece ser muito simples e caseira, tem gerações de cozinheiras experimentando, tentando, descobrindo, compartilhando e fazendo aquele prato chegar até hoje sem nunca cansar.

4 comments:

  1. Deborah,

    Nossa, fiquei com água na boca querendo comer um spaghetti ao pomodoro e basílico depois de ter comido um pãozinho com azeite :-))
    ADORO>
    Beijos.

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  2. Pior Luciana que eu nem sei se vou fazer massa..acredita? No inicio acho que não, precisa de uma pessoa só para tomar conta do ponto...porque já viu né...uma italiana servir spaguetti passado...NUNCA!

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  3. Acredito, pasta fora do ponto, jamais!!!

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  4. Deborah

    acho que voce falou tudo, comida simples, tradicional e bem feita. Nao precisamos de mais nada.
    adoreiiii
    e tem razao um molho bem feito leva tempo e muito amor e carinho como temperos adicionais :-)
    abracos
    Helena

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